O programa "Educando Cidadãos: O que todos nós temos a ver com a corrupção?", criado pelo promotor de justiça Affonso Ghizzo Neto, está mudando a abordagem educacional e a conscientização sobre a corrupção no Brasil. 


O movimento começou em 2000, na cidade de Descanso, quando ele percebeu que o sistema judicial não conseguia atender todas as demandas da sociedade por si só. Em 2002, ele organizou a primeira passeata temática contra a corrupção em Porto União, um evento que lançou as bases para a campanha "O que você tem a ver com a corrupção?" em 2004, em Chapecó. Desde então, o programa recebeu reconhecimento nacional, como o Prêmio Innovare em 2005, e foi apresentado na ONU em 2013, expandindo seu alcance internacionalmente.


O programa, que conta com mais de 100 parceiros públicos e privados, não é uma iniciativa individual, mas sim um esforço coletivo. A nova fase, denominada "Educando Cidadãos", é baseada na tese de doutorado de Affonso e visa descentralizar a ideia, incentivando parceiros a realizarem ações internas e colaborativas. "O segredo e a ambição é não deixar o projeto morrer. Educação é um projeto de continuidade," afirma Affonso.


A apresentação do programa na ONU, em setembro de 2013, ocorreu pouco após as manifestações anticorrupção no Brasil, o que ajudou a destacar a importância da iniciativa. Esse reconhecimento internacional reforçou a ideia de que a corrupção é um problema universal, não apenas brasileiro. "A expansão internacional é importante porque comprova que a corrupção não é um problema brasileiro, mas um fenômeno universal," destaca Affonso.




As parcerias com diversas instituições e empresas são cruciais para o sucesso do programa. Essas alianças ajudam a formar uma rede de pessoas comprometidas com o controle social e a boa governança. "É um processo lento, que vem dando frutos, mas que não pode ser parado," diz Affonso.


A integração do programa ao currículo escolar é uma meta importante. Algumas escolas já implementaram programas específicos e concursos temáticos. Affonso espera que essas ações sejam ampliadas para todo o território nacional, em parceria com secretarias de educação. "A expectativa é alta, mas o histórico do projeto mostra que é possível," afirma.


No entanto, o programa enfrenta desafios na implementação, especialmente em um ambiente polarizado. Affonso enfatiza a importância de focar nos denominadores comuns para superar as diferenças culturais e regionais. "Vamos focar nos 98% que temos em comum e trabalhar para formar uma cultura de controle social," sugere.


No âmbito educacional, o programa utiliza conceitos práticos de ética e cidadania, inspirados por autores como Elinor Ostrom e outros pensadores renomados. Affonso acredita que exemplos simples do dia a dia podem transformar a percepção das pessoas sobre ética e corrupção.


O impacto do programa já é visível. Affonso relata encontros com jovens adultos que se tornaram agentes de controle social após participarem das atividades do projeto na infância. Um exemplo recente é o Colégio Deon, em Tubarão, Santa Catarina, onde alunos do ensino médio apresentaram o projeto para estudantes mais novos, criando um ciclo de aprendizado e compromisso ético.


A visão para o futuro do programa "Educando Cidadãos" é otimista. Affonso acredita na continuidade da educação como ferramenta fundamental para a transformação social. "Precisamos criar uma cultura de controle social, onde a preocupação com a corrupção, ética e boa governança seja trabalhada continuamente," conclui.