A arte de trabalhar no turismo em cenário de crise
Há algum tempo o turismo vem recebendo mais atenção do mercado, conquistando seu espaço numa conversa sobre cenário econômico. Fazendo parte e engrossando relatórios sobre demandas de setores produtivos. Por exemplo: a falta de mão de obra na construção civil também é sentida no varejo e não deveria ser diferente no turismo. E não é! Talvez tenha dados mais alarmantes, uma vez que a atividade não é atrativa. Num país tropical onde destinos turísticos mesclam paisagem, natureza e atrativos com ônibus e horário para entrar no serviço, essa relação não é tão harmoniosa. Até porque, as escalas de trabalho preveem sábado, domingo e dia santo. Não é atraente! Faixas salariais são discutíveis num país ainda emergente. E escuta-se no ato do pedido de desligamento, que o próximo trabalho ofereceu x% a mais, e quando a conta é feita o valor deste x% a mais gera em torno de R$ 50,00 a R$ 100,00 – um cenário que merece discussão , mas não é tema deste artigo no momento, somente contextualizar o outro cenário que surge: catástrofes ambientais, mudanças de climas, consequente influência nas decisões do cidadão, ser humano em busca de algo para suprir seus desejos de viagem, descanso, lazer e diversão. E o
outro que está no atendimento destas demandas e tem as suas próprias .
A abordagem aqui é de crise com sendo um cenário onde diversas correntes de fatos afetam o andamento de um sistema em que giram: empresas, destinos, clientes e todos afetados pelo cenário físico. O Covid deveria ter sido uma aula. Porém parece ter sido um MBA para quem ainda estava saindo do Ensino Médio, o que quer dizer que havia uma demanda e um cenário completamente novos, e os agentes e atores do turismo pegos de surpresa no planejamento de crise, vivência novamente agora em menor escala para uns, porém independente do tamanho, é um problema a ser solucionado.
O que compõe o cenário? Rios, alagamentos, deslizamentos, chuvas, pessoas sem casas, sem locomoção, empresas fechadas, turistas que fizeram seus planos e agora buscam alternativas , primeiro para sua frustração e em segundo plano o financeiro. Os gestores da área de turismo, quer seja público ou privado, na liderança, propriedade ou gerenciamento de empresas turísticas, precisam administrar suas vidas, a vida dos negócios em meio ao chamamento interno de empatia ao que acontece no seu entorno. Não é fácil, em Outubro administrar um cancelamento de uma reserva e jogá-la para Janeiro, idealizando com o cliente um cenário de sol, entrega completa do que se promete e ao realizar o negócio, se depara com a realidade dura do momento. Chaves precisam ser viradas para que não entre em colapsos nervosos, ou sentimentos de culpa por estarem trabalhando com planejamento de viagens enquanto vizinhos perdem casa. O apoio psicológico deve ser feito com maestria e diariamente. O avanço da posição do turismo, porém , deve ser levado em consideração. Fazer parte do levantamento de dados, ser considerado em uma reunião quando se fala de planejamento estratégico de um destino ou de um grupo. Sentir que será ouvido também em suas demandas, sem correr o risco de ser deixado pra depois por não ser prioridade. É assim dentro de empresas ( vendas deixa de ser ouvido quando o assunto é manutenção) . A cadeira do turismo não é ouvida porque a prioridade agora é assistência social. É hora de entender que tudo faz parte de uma engrenagem, e o quanto antes essa engrenagem for aceita, mais rápido se chegará ao patamar idealizado.
Lara Perdigão é relações públicas, proprietária da empresa Lara Perdigão Consultoria e atualmente exerce o cargo de Secretária de Indústria, Comércio e Turismo de Urubici, na Serra Catarinense.