Dificuldade de concentração, lapsos de memória, equívocos de percepção, maior irritabilidade, estresse e insatisfação, aliados a questões somáticas como dores no corpo, alteração no sono e no apetite, fadiga e alergia emocional. Esses são alguns indicativos de que a ansiedade afeta sua vida, interfere na rotina diária e atrapalha no convívio social.
Como mecanismo natural do organismo essa emoção tem como função nos defender de situações perigosas. O que não é saudável é estar em constante estado de alerta, relacionado à preocupação excessiva e à pensamentos negativos, que potencializam a sensação de insegurança e medo.
De acordo com a psicóloga clínica da Medicina Preventiva da Unimed Chapecó, Tatiane Sberse, em alguns momentos se manifestam sintomas mais específicos e intensos característicos de ataque de pânico, como: coração acelerado, dificuldade para respirar, tremores, desajuste gastrointestinal, visão turva, sensação de peso nas pernas, formigamento, boca seca, calafrios e sensação de desmaio.
O coordenador do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional da Unimed Chapecó (PCMSO) e médico do trabalho, Dr. Paulo Fett Neto, ressalta que a ansiedade é uma doença multifatorial. “Há vários geradores dos quadros de ansiedade que podem estar relacionados a fatores genéticos, de experiências na infância, formação da personalidade, vivências externas, entre outros”, comenta.
No ambiente de trabalho existem vários fatores que contribuem para a ansiedade. Entres eles: sobrecarga, muitas tarefas para realizar em um curto espaço de tempo; falta de controle sobre suas atividades; falta de apoio de colegas de trabalho ou líderes; ambiente tóxico, com clima organizacional hostil ou desrespeitoso; expectativas irrealistas com pressão para atingir metas impossíveis; insegurança, ameaças de demissões ou situações precárias; e conflitos com colegas de trabalho.
ESTRATÉGIAS
Para o médico do trabalho, as empresas com maior comprometimento com seus funcionários buscam um olhar mais amplo para a saúde, tanto nos aspectos laborais quanto individuais. “As organizações têm papel fundamental na criação de um ambiente de trabalho saudável e positivo para seus funcionários, incluindo a abordagem da questão da ansiedade”, defende Dr. Paulo.
Como medidas que as empresas podem adotar, estão: promover a conscientização sobre a ansiedade no trabalho por meio de treinamento de como lidar com esse sentimento de forma eficaz; oferecer suporte emocional, aconselhamento ou terapia para funcionários que estão lutando com a ansiedade no trabalho e fornecer recursos e ferramentas como aplicativos de gerenciamento de estresse ou de meditação.
Ainda, entre as ações propostas, está a de gerenciar a carga de trabalho ao equilibrar as expectativas de produtividade e permitir que os funcionários tenham tempo suficiente para realizar suas tarefas. “Esse dimensionamento de tempo necessário para executar determinada atividade com calma e tranquilidade é uma importante fonte de controle da ansiedade”, argumenta Dr. Paulo.
Para a psicóloga, manter uma rotina organizada é um fator de proteção contra a ansiedade. “Ter horários fixos para dormir, acordar e realizar as refeições, já é um ótimo começo. Também é preciso ter momentos de descanso, utilizar agendas ou outro meio de registro de compromissos e organizar o ambiente em que está inserido”, orienta. No ambiente de trabalho, Tatiane ressalta, é importante conhecer o fluxo e as demandas para definir as tarefas por prioridade, buscar comunicar-se assertivamente e identificar gatilhos.
As empresas também podem criar um ambiente de trabalho acolhedor, que promova a intercooperação e a comunicação aberta, além de incentivar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, permitindo horários flexíveis ou dias de folga de acordo com a legislação vigente. “Isso ajudará os funcionários a lidar com a ansiedade e o estresse, bem como estimulará a prática de atividades saudáveis, exercícios físicos, meditação e ações de relaxamento”, justifica Dr. Paulo.
Mudanças de hábitos contribuem para o controle da ansiedade. “Fazer pausas curtas, melhorar a organização são como fatores de proteção, pois contribuem para diminuição do estresse e da agitação. Também auxiliam para aumentar a disposição e clarear o pensamento para uma visão mais realista da situação”, argumenta Tatiane.
LIDERANÇAS X CONFLITOS
Relacionamentos interpessoais saudáveis, confiáveis e positivos são fundamentais para produtividade, eficácia e satisfação da equipe no ambiente de trabalho. Mas, como melhorar o diálogo da equipe para evitar mal-entendido, reduzir os conflitos entre os colaboradores e minimizar os sentimentos de insegurança e de falta de apoio?
Segundo o médico do trabalho as empresas podem investir em algumas medidas, como: comunicação eficaz, honesta e respeitosa; colaboração e trabalho em equipe, compartilhando ideias, conhecimentos e habilidades; reconhecimento e celebração de sucessos, criando um senso de unidade e camaradagem; incentivar o respeito e a diversidade, valorizando as diferenças individuais e criando um ambiente inclusivo e investir em atividades sociais.
“A liderança desempenha um papel fundamental na melhoria do relacionamento interpessoal da equipe. O líder deve incentivar a comunicação aberta e o trabalho em equipe, estabelecer metas e expectativas claras, além de fornecer feedback construtivo. Ele também deve estar atento aos conflitos interpessoais e ajudar a resolvê-los de forma justa e imparcial”, explica Dr. Paulo.
“Considerando os sintomas de ansiedade e o desafio de gerenciá-la, a psicóloga Tatiane comenta que o comportamento ansioso pode vir a repercutir no atendimento das atividades da equipe, afinal, não seria incomum a presença de maior fragilidade na comunicação e no relacionamento interpessoal, atrasos no cumprimento de prazos, baixa tolerância à frustração e desmotivação. Afinal, a ansiedade está relacionada à preocupação excessiva e à pensamentos negativos e antecipatórios”, observa Tatiane.
COBRANÇA EXCESSIVA
A definição clara de metas e expectativas é importante para a produtividade e o desempenho, mas a cobrança excessiva pode levar ao estresse, à ansiedade e ao esgotamento dos funcionários, o que prejudica a eficácia e a eficiência da equipe. De acordo com o médico do trabalho é possível obter resultados expressivos e satisfatórios sem utilizar a pressão demasiada nos colaboradores. “Entre as estratégias estão a de fomentar a colaboração porque valoriza as habilidades e os conhecimentos individuais”, sugere.
Ainda entre técnicas corporativas, Dr. Paulo, recomenda às empresas a incentivar a inovação e a criatividade, na qual os funcionários precisam encontrar soluções para os desafios e pensar alternativas para atender suas necessidades e do cliente. “Oferecer oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem, como treinamentos e cursos, aumenta a capacidade do colaborador em realizar tarefas de forma eficiente, sem gerar sensação de cobrança excessiva. Enfim, estabelecer um ambiente saudável aumenta a satisfação e o engajamento dos funcionários, o que consequentemente melhora a eficiência da equipe”, destaca.