“Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que você se admire, toda a vida é um aprender a morrer”. Sêneca, Sobre a brevidade da vida. 


- Como assim? Falei em voz alta com a expressão do rosto carregada de dúvida, onde no pensamento vagava “aprender a viver e aprender a morrer?” ...Então, larguei o livro no guarda-corpo da varanda e fui até a cozinha buscar um café. No caminho de volta, trazendo a xícara com todo cuidado, precisei parar para assistir a cena delas no encontro do corredor: as duas ali, face a face, se encarando num duelo de olhares e bengalas em riste. 


Então, fui tomada de curiosidade para com o desfecho daquela rixa das nonagenárias e se eu deveria ou não intervir. Respirei fundo e tomei um gole longo de café, enquanto elas se apertaram no corredor com suas sacolas cheias de lãs, linhas e agulhas, e onde as bengalas que se tocaram como espadas afiadas, mas ninguém cedeu espaço. Algo profundo fez sentido no meu coração, sorri e soltei “boa tarde, senhoras! mais um dia bonito e cheio de vida por aqui!”.


Naquele exato momento, mentalmente eu me perguntava “quem sou eu na fila do pão para repreender essas duas mulheres de mais de 90 anos?”. Então, eu entendi que a rivalidade entre ambas era o que instigava as emoções do dia, era um flerte com o vigor de outrora, era, também, a coragem de defender suas posições, seus pensamentos e seus territórios antes que a doença chegasse, ou que a morte de súbito as levasse. 


Há mais de 14 anos ajudo famílias no cuidado com seus idosos e ouso dizer que o aprender a morrer acontece quando olhamos para a vida sem cobrá-la, sem dívidas, e que aquele “problema” ou aquela “pessoa” de quem reclamamos, pode ser visto como uma forma de olharmos para a vida com intenção de continuarmos vivos.  Pode parecer estranho, mas eu te convido a refletir nisso um instante, pois a vida é breve e podemos nos deleitar nela em todas as circunstâncias – sejam boas ou ruins.


Aprender a viver e aprender a morrer, para mim, representa que a vida é certa como ela é! Ponto. Então, viva você! Viva suas alegrias, tristezas, sonhos, frustrações, viva sua vida imperfeita! Viva a sua obra, para que quando chegares à velhice não digas que não viveu.



Suayla Spiller Peruzzo é cristã, casada, empreendedora e esportista. Adora se conectar com ambientes e pessoas prósperas, que servem a sociedade e contribuem para o crescimento de outras pessoas e negócios.