Ela trouxe dúvidas e levou certezas.
A angústia e o medo transbordaram pelas comportas que foram insuficientes para conter as lágrimas que molharam cada foto, cada lembrança, cada pedaço de história. Muita coisa foi molhada, mas não apagada da nossa memória. E talvez ali, nas memórias que a água não levou, nas lembranças boas do que foi vivido que esteja o galho mais forte para se agarrar e não sucumbir nesse rio de dor. Quem sabe nessas memórias que resistiram as cheias esteja a força para escrever, nessa folha em branco da vida, um novo jeito de viver.
Conforme Heráclito, não passamos pela água de um rio duas vezes da mesma forma porque na segunda vez já somos outros e a água que tocará nossos pés também será outra. Tudo que acontece conosco nos modifica, mesmo as difíceis. Cada situação tem esse poder, aliás até uma fala tem o poder de nos modificar. Talvez a fala e a escuta possam ser hidrelétrica produtora de energia para recomeçar a vida, não sem dor, afinal são perdas irreparáveis e incomensuráveis. Que não falte quem cuide de todas as dores emocionais que as águas trouxeram e que precisam ser escutadas.
Como organizar todos os sentimentos e emoções que chegaram sem avisar?
Que a correnteza do bem que se formou no nosso país se espalhe, dentro de cada um, em forma de abraço que acolhe, ajuda e renova as forças. Que no limpar da lama e no secar das lágrimas lembremos daquilo que a água não levou: a coragem para recomeçar!
Força, Rio Grande do Sul.
Vivian Ritter é Doutora em Filosofia, PhD. Especialista em Neurociência e Comportamento, Psicanalista, Professora de Pós- Graduação há 16 anos. Desenvolve pessoas e organizações com palestras, aulas e treinamentos. Instagram: vivianritter_