Inquietação, confusão mental, tensão muscular, talvez insônia ou alteração do hábito alimentar, em ambas percepções, tanto na angústia quanto na ansiedade, se apresentam os mesmos tipos de sensações, mas elas servem a princípios diferentes do que pensa a maioria das pessoas. Pensa-se que a ansiedade é uma característica da personalidade, costuma-se dizer que se “é ansioso”, enquanto, na verdade, apenas “se está ansioso”. A ansiedade é uma resposta biológica natural - e necessária - que nos prepara para reagir à algum perigo iminente no ambiente. As duas opções mediante tal perigo (lutar ou fugir) exigem um preparo especial do corpo: A tensão muscular para aumentar a potência na luta ou na corrida; o esvaziamento de conteúdos corporais para deixá-lo mais leve; o desligamento do pensamento racional em prol de concentração em comportamentos instintivos e em estado de alerta; todas essas sensações já foram muito úteis para se garantir a sobrevivência nos tempos mais remotos, e assim se comportam os animais selvagens ainda. A ansiedade é um comportamento possível de ser remodelado, ensinando o corpo, diferente da época que se lidava com inimigos selvagens e predadores, a não reagir tão intensamente aos novos perigos da vida cotidiana: os prazos, dívidas, responsabilidades, sustento dos filhos. Sendo assim a ansiedade tem um representante claro e formado. Já a angustia se apresenta a serviço de outra dinâmica. O sujeito que tem sensações parecidas com a da ansiedade, quando lhe é perguntado o motivo de tal sensação, não consegue explicar ou elaborar o motivador da causa! Em contraste com a ansiedade, a angustia tem seu motivo desconhecido e oculto. Isso se dá porque a angustia (afeto) se deslocou do seu representante (motivo), porque o conhecimento deste é, de alguma forma, desprazeroso para o conhecimento da consciência. Em conceito psicanalítico a lembrança pode ser reprimida, mas a energia ligada a ela não, assim esse afeto corre sem representante e se externaliza no comportamento angustiante sem causa aparente para o sujeito consciente. Lacan diz que a angustia é um afeto que não mente e em análise o sujeito consegue elaborar essa relação, juntando a angustia ao fator angustiante antes censurado, e assim trabalhar para se livrar deste.

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Emanuel Barbosa é psicanalista formado pelo Instituto Clínico de Psicanálise de Orientação Lacaniana, atrelado à Escola Brasileira de Psicanálise, uma das sete escolas mundiais da Associação Mundial de Psicanálise. Bacharel em Direito, já na primeira formação possuía interesse pelas áreas de conciliação e Direito de Família, aonde o diálogo e escuta ativa auxiliavam na resolução das demandas. Também é formado em terapias integrativas e massoterapia.