“Dar conta de tudo!”. Atire a primeira pedra a mãe que nunca se cobrou por isso. Filhos, casa, marido, família, trabalho, sociedade e, por último, cuidar de si mesma. Passar pelo processo da gravidez de forma saudável, ter o parto dos sonhos e encarar o puerpério como se “tudo fossem flores”, sem considerar os desafios reais da maternidade, onde a cada dia que passa dar conta de tudo se torna uma missão impossível. A cobrança é cada vez maior e o sentimento de não conseguir dar o seu melhor é frustrante. Mesmo enfrentando pressões sociais para conciliar todos os afazeres que o mundo moderno exige, as mães também estão em busca de desconstruir a romantização excessiva da maternidade que é comum nos dias de hoje.
“Engravidar e ser mãe nunca foi minha prioridade de vida. Até pensei que nunca seria mãe, pois, tinha muitos medos, inseguranças e não conseguia ver um bebê na rotina que levava. Até que um dia, a vontade de ser mãe e viver essa experiência foi mais forte. Hoje, olhando para trás, penso como pude, um dia, pensar em não ser mãe?”. Esse é o depoimento da Aline Fistarol, de 33 anos, mãe da primogênita Flora, de 10 meses de idade. Ela conta que quando resolveu exercer a maternidade sabia das transformações que o seu corpo e sua mente passariam e o primeiro passo foi buscar ajuda médica para preparar seu corpo às mudanças que viriam. Aline sabia que não queria abrir mão da atividade física, pois, era o que manteria a sua mente saudável ou, como ela diz, seria sua válvula de escape. “A gestação foi uma bomba hormonal, uma verdadeira montanha russa, entre medos, alegrias, novidades e muito choro. Diariamente você vê o seu corpo se transformando e muitos comentam que são as mais belas curvas. Sim, são! Mas, você precisa estar muito bem para não se deixar abalar em meio a tantas transformações”, relembra Aline.
Conforme descreve o ginecologista, obstetra e médico cooperado da Unimed Chapecó, Dr. Raulério de Campos Papini, as modificações do corpo da mulher já ocorrem desde o início da gravidez, mas não costumam atrapalhar até o quinto mês (20 semanas de gestação). Depois desse período é que a barriga começa realmente a crescer, o bebê a ganhar mais peso e os desconfortos como dores nas costas e dificuldade para dormir, se tornam frequentes. “Alteração na função hormonal, dor nas costas, variação no equilíbrio e falta de coordenação isso tudo é normal, é o corpo se preparando para o parto natural. O que muda também é o fator psicológico e para muitas mães é difícil lidar. Com isso, é importante que elas busquem ajuda profissional e tenham uma rede de apoio durante a gravidez e também no puerpério, pois é quando elas realmente sentem o peso da maternidade, em um momento em que já não dormem direito e há um cansaço muito grande acumulado de toda gestação e agora soma-se a nova rotina com o bebê, que requer total atenção”, complementa Dr. Raulério.
A psicóloga da Unimed Chapecó, Carla Zeni, explica que naturalizar a gravidez é um conceito social construído ao longo da história da mulher, assim como tantos outros, como sendo um papel feminino e que deve seguir uma cronologia de crescer, estudar, casar, ter filhos e cuidar da família. “Essa cronologia não representa uma verdade. A pressão social sempre existiu e vai continuar existindo. O que acontece é que a mudança ocorrerá quando você avaliar isso, agir conforme suas próprias necessidades e da forma que for mais saudável e melhor para você. A rede de apoio pode amenizar essa pressão que as mães vivenciam diariamente, pois ela ajuda a sentir menos solidão nessa caminhada e oferece benefícios para a criança também. Uma mãe mais tranquila, feliz e segura consegue conduzir a maternidade de forma mais leve e assertiva”, reflete a psicóloga.
Aline sabia que a maternidade não seria fácil, mas sempre havia aquela cobrança pessoal de que, em qualquer situação, ela precisava estar bem física e emocionalmente para cuidar da filha. “Quando me permiti e entendi que nem todo dia estaria bem, afinal isso também faz parte do processo, eu me libertei um pouco da busca pela maternidade perfeita. Isso fez com que eu vivesse as emoções e não lutasse contra elas todos os dias. Neste momento, a atividade física me ajudou a lidar com os sentimentos, a tal montanha russa”. Aline revela também que sempre sonhou com o parto normal, se preparou e planejou para que isso fosse realidade. Apesar do medo e dos pensamentos ruins que, às vezes, tomavam conta, o objetivo de ter um parto natural era o que dava força à ela para enfrentá-los. “Além de uma alimentação voltada para a gestação e atividades físicas busquei ler muito e me aproximar de outras mães que viviam essa fase comigo. Saber que não era só eu que estava sentindo ou passando por determinada situação me ajudou muito. A gestação é um momento único e deve ser vivido com todos seus altos e baixos, além disso, tudo passa e ainda deixa saudades”, reconhece ela.
O corpo em transformação
Manter uma rotina de exercícios físicos, alimentação equilibrada e saudável durante a gravidez é fundamental para a saúde da mãe e do bebê. Contudo, neste período alguns sinais ainda podem aparecer. O aumento do estrogênio e da progesterona pode levar ao surgimento do melasma e ao maior crescimento de cabelos, aliado a ausência de queda capilar. O hormônio estimulador do melanócito (MSH) leva ao escurecimento de áreas da pele. As estrias ocorrem devido ao estiramento da pele rompendo as fibras elásticas. Já as varizes são ocasionadas devido ao aumento da pressão venosa e do volume sanguíneo.
A dermatologista e médica cooperada da Unimed Chapecó, Dra. Paula Hund, explica que a maioria das mudanças no corpo feminino decorre de alterações mecânicas ou hormonais próprias da gestação. “A hiperpigmentação, escurecimento de áreas da pele, pode ocorrer nas aréolas mamárias, em uma linha vertical no abdômen, área genital e axilas. Quando na face é chamado de melasma e pode surgir ou se agravar na gestação, sendo a maior queixa dermatológica. O melasma ocorre entre 50% e 75% das gestantes e inicia no segundo trimestre da gravidez. Ele é multifatorial, então, não só o aumento destes hormônios está implicando, mas é necessária uma associação com exposição solar, fatores genéticos ou raciais”, explica a dermatologista ao contextualizar que, como método preventivo, o uso de fotoprotetores é fundamental, principalmente aquele com Fator de Proteção Solar (FPS) acima de 50. Os produtos com cor também costumam ser mais efetivos. Além disso, o uso de protetores físicos como chapéus, óculos escuros e guarda-sol também devem ser utilizados.
Outro sinal bastante característico são as estrias, lesões de pele mais comuns nas mamas e no abdômen e podem acometer de 40% a 80% das gestantes. No início do aparecimento elas são vermelhas e surgem em torno do sexto mês, mas depois se tomam brancas. Neste caso, o uso de cremes hidratantes contribui para melhorar a elasticidade da pele e a deixa preparada para eventuais distensões. Conforme contextualiza a dermatologista, outro dado importante é que em 40% das gestantes surgirão varicosidades nas pernas. Também, é comum haver piora de quadros pré-existentes de acne, herpes, psoríase e, menos comuns, são as doenças específicas inflamatórias da gestação e do puerpério que, embora raras, precisam ser diferenciadas das alterações naturais da gestação, pois apresentam risco de comprometimento fetal.
Em relação ao crescimento de cabelo durante a gestação e a sua queda no puerpério, a dermatologista esclarece que, após um período gestacional com muitos hormônios agindo a favor de cabelos mais brilhantes e volumosos, vem a fase do eflúvio telógeno, ou seja, a queda diária dos fios de cabelo. “Três meses após o parto todos aqueles cabelos passam para uma fase de repouso e queda. Esta queda pode durar de três meses até, em alguns casos, um ano. Isso é decorrente da queda hormonal, do estresse diário e até mesmo do parto. Consultar um especialista é de suma importância, ele avaliará através de diálogo, exames físicos e laboratoriais se algo está, ou não, fora do esperado e orientar para tratamento necessário”, finaliza a dermatologista e médica cooperada da Unimed Chapecó, Dra. Paula Hund.
Importância do pré-natal
Para a coordenadora pediátrica da Unimed Chapecó e médica cooperada, Dra. Marta Formoso Goldschimidt, a melhor maneira de evitar intercorrências com o bebê é realizar o acompanhamento durante toda a gravidez e cumprir as recomendações médicas. “Uma gestação seguida de um pré-natal eficiente levará a um bebê saudável, na maioria das vezes. O nascimento deve ser bem programado, seja parto normal ou cesárea, com todos os recursos necessários para atender a mãe e o recém-nascido em tempo hábil. Em todos os nascimentos existe o Minuto de Ouro de vida da criança, que é o primeiro minuto depois que a mãe dá a luz. Neste momento, ocorrem transformações cardiorrespiratórias, onde a criança assume a sua própria respiração para fornecer oxigênio ao cérebro e coração”, explana a pediatra.
A Flora chegou ao mundo no dia 14 de outubro de 2022, pela via de parto normal, com 37 semanas e três dias. Como conta a mãe, durante a gestação a bebê teve restrição de crescimento e o parto precisou ser induzido. “Ninguém sabe ao certo o que ocasionou a restrição, mas o importante foi que ocorreu tudo bem durante o parto e a minha Flora nasceu cheia de saúde”, celebra a mãe. Para Aline, a maternidade perfeita não existe. Agora, depois de todos desafios vividos na gravidez o que existe para ela é uma versão de si mesma muito mais forte. “Hoje, o que faria diferente seria dizer para aquela Aline (que já não existe mais), a afirmação de apenas continue. Por mais que você não esteja sozinha, e tem outras mães vivendo isso também, a gestação de cada uma é única e deve ser uma experiência com todos seus altos e baixos. Tudo passa e ainda deixa saudades. Também cuidaria muito do meu físico novamente, pois foi através da rotina diária de exercícios físicos que me fez chegar bem para meu tão sonhado parto normal”, finaliza Aline Fistarol.