A psicanalise têm sido criticadas pelas psicologias modernas como sendo ultrapassada, desatualizada e invasiva, porém tal observação se dá por aqueles que pouco conhecem sobre sua metodologia e abordagem a funda, pois pouco se aprofunda sobre a psicanalise na brevidade dos cursos universitários. 

Sigmund Freud, percursor da prática, já em 1895 revolucionou a sociedade quando desvenda o fenômeno que avassalava as mulheres do final do século XIX, cujo apresentavam comportamentos estranhos como analgesias, alucinações, perdas de sentidos ou consciência, e que não podiam ser diagnosticadas pela medicina da época, sendo denominadas como doença de fingimento e exagero apresentada pelas mulheres, as conhecidas histerias, que se remetem ao grego Hyster, que significa útero. Após sucessivas analises, Freud descobre enfim que essas mulheres não atuam ou simulam sua condição, mas apresentam real alteração dos quadros fisiológicos em função de uma grande supressão social que abrange o sexo feminino. A exclusão da vida social e política, a censura cultural e o grande tempo de ócio que as mulheres eram submetidas por servirem “apenas para o lar” era o grande ocasionador das doenças que eram até então desacreditadas. De igual forma em sua obra “Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade” de 190, também já traziam a explicação que a condição da homossexualidade é natural e não havia nada de degenerativo na sua presença, o que era tratado como doença pela cultura da época, sendo, inclusive, utilizado o sufixo homossexual-ismo, termo que caiu em desuso pelo fato de conotação à doença. 

Com base nesses dois exemplos, enxergamos na psicanálise uma ciência que visa descobrir o efeito que a cultura, sociedade e seus subprodutos, como cultura e religião, possuem efeito sobre a singularidade de cada sujeito. É um discurso que se desloca de todos os outros discursos, para poder analisa-los e compreender os efeitos inconscientes que fazem na organização social a partir de seus reflexos. Basicamente o que se descobre em psicanálise é que a constituição de cada sujeito é influenciada pelo meio que o rodeia, pela interação com o pais ou figuras de criação, pelos tabus sociais e religiosos, pela introjeção da língua, da palavra e do significado que se inscreve em cada um. A psicanalise, na sua essência, busca dar espaço para que, nas frases de Jacques Lacan, famoso psicanalista, “o sujeito precisa de tempo escutar e entender o que ele mesmo diz”, pois, segundo a metodologia, tudo que somos é resultado de uma necessidade psíquica de sobrevivência, nos constituindo a partir de demandas internas e externas, sendo que as vivências mais traumáticas costumam – mesmo que esquecidas – a reverberarem em comportamentos, ações e reações, que são com o passar do anos assimiladas e integradas à outros comportamentos, gerando uma rede de associações e que formam a complexidade de nossa psique.

A psicanálise não visa uma cura, um salvamento, mas sim uma análise do discurso do sujeito, para ajudá-lo a compreender se ele realmente deseja aqui que diz que quer ou que é.

Emanuel Barbosa é psicanalista formado pelo Instituto Clínico de Psicanálise de Orientação Lacaniana, atrelado à Escola Brasileira de Psicanálise, uma das sete escolas mundiais da Associação Mundial de Psicanálise. Bacharel em Direito, já na primeira formação possuía interesse pelas áreas de conciliação e Direito de Família, aonde o diálogo e escuta ativa auxiliavam na resolução das demandas. Também é formado em terapias integrativas e massoterapia.